Fiéis realizam ofertas, doações e dízimos por meio de transações instantâneas, popularizadas na pandemia de covid-19
Utilizado por muitos brasileiros como uma ferramenta para realização de transferências bancárias, o Pix também se tornou popular em ações do cotidiano de igrejas católicas soteropolitanas. O meio de pagamento instantâneo, criado pelo Banco Central em 2020, aumentou em ao menos 30% as doações dos fiéis aos templos, que começaram a utilizar a tecnologia durante a pandemia de covid-19.
Das 110 paróquias da Arquidiocese de Salvador, aproximadamente 60% utilizam ferramentas tecnológicas nos processos de doações, ofertas e dízimo, de acordo com o coordenador e assistente eclesiástico da Pastoral do Dízimo na Arquidiocese, padre Jaciel Bezerra. O número só não é maior por causa de certa resistência por parte de alguns padres e fiéis.
Localizado no bairro do Imbuí, em Salvador, o Santuário Nossa Senhora da Conceição Aparecida adotou a prática por causa da necessidade sanitária. Como as pessoas deveriam evitar o toque nas cédulas e as extensas filas do ofertório, os QR Codes foram colocados nos bancos da igreja, para facilitar a contribuição dos fiéis e evitar aglomerações.
O resultado da prática é o aumento de 30% das doações, feitas durante o ofertório ou após as celebrações eucarísticas, ao Santuário, sem inclusão dos recursos do dízimo, como aponta o reitor, padre Clériston Mendes. “Há uma participação maior porque as pessoas geralmente esquecem o dinheiro em espécie ou, por causa da insegurança, evitam portar a moeda física”, explica.
Metade desse aumento vem do ofertório – parte da missa destinada à apresentação do pão e vinho que serão consagrados no altar e à contribuição dos fiéis. Além do auxílio do Pix, o Santuário utiliza uma outra tecnologia para o dízimo: o programa Servo Fiel. As pessoas cadastradas recebem um chaveiro com um chip, que, quando apresentado sobre uma máquina de cartão comum, identifica imediatamente o colaborador e o mês da contribuição.
via Pix há mais de um ano. A praticidade da ferramenta é ponto crucial para a fiel, que frequenta o santuário do Imbuí. “Depois da facilidade do Pix, quase não vou mais na secretaria”, relata. O mesmo acontece com o gerente comercial Bruno Andrade, 38. O católico realiza as doações e ofertas por meio do mecanismo há 8 meses. “Tudo que nos traz segurança, rapidez e transparência tem tudo para dar certo. Não seria diferente com as ações religiosas”, pontua.
O uso do Pix também potencializou as doações feitas na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho. O padre Lázaro Muniz, capelão do templo, afirma que a ferramenta ajuda principalmente em doações e pagamentos de ingressos de eventos. “A ferramenta é utilizada para apoio na pastoral e no compromisso dos fiéis.”
Na Igreja Nossa Senhora da Vitória, no Largo da Vitória, os QR Codes foram colocados nos bancos há um mês, mas as transferências instantâneas são utilizadas desde a criação do Pix para os pagamentos de taxas de casamentos e batizados, devolução do dízimo, campanhas de arrecadação e outras doações.
“A tecnologia tem facilitado muito. É uma economia ampla. As pessoas não gastam gasolina, por exemplo, para vir à igreja realizar o pagamento de uma taxa”, comenta o padre Luís Simões, pároco da Igreja Nossa Senhora da Vitória.
“Alguns padres ainda não estão acostumados com este novo jeito de ser Igreja no mundo da tecnologia, mas é gratificante ver que nós temos todos esses meios que ajudam a trabalhar para melhor servir à Igreja e ao povo de Deus”, diz o padre Jaciel Bezerra, da Arquidiocese.
Dízimo x Oferta
Para os católicos, o dízimo não é um pagamento de uma dívida ou uma taxa, mas uma contribuição feita pelos fiéis, realizada para incentivar a evangelização, além de ser um reconhecimento das graças obtidas por Deus.
A Igreja orienta o dizimista a contribuir com 10% do que recebe, mensalmente, em sua comunidade. No entanto, o padre Jaciel explica que essa porcentagem não é uma obrigação. “Na própria consciência, o fiel analisa qual é a condição dele e o que o coração pede.”
A oferta faz parte de um rito específico da missa, o ofertório, sem estipulação de valor.
A Arquidiocese dedica todo o mês de julho à Espiritualidade do Dízimo, quando a Regional Nordeste 3, grupo que reúne as 26 dioceses de Bahia e Sergipe, mobiliza campanhas de incentivo e conscientização sobre as dimensões do instrumento.
Destino dos recursos
Ainda conforme o padre Jaciel, 12% dos recursos recolhidos das ofertas e dos dízimos vão para a Cúria Metropolitana, a serviço da manutenção da Arquidiocese, e 88% ficam nas paróquias. Nas comunidades paroquiais, os recursos são distribuídos em quatro áreas: religiosa, utilizados para manutenção de conventos e seminários; missionária, para auxiliar as atividades evangelizadoras; eclesial, a serviço das manutenções dos espaços físicos; e caritativa, destinados à promoção de atividades sociais e atos de caridade.
*Sob a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro