Com cinco filhos, Trump entrou na política já pela presidência. Antes, expandiu negócios imobiliários do pai e ficou famoso ao estrelar ‘O Aprendiz’ na TV. Foi processado 5 vezes e acusado outras 18 de crimes sexuais. Ele nega.
Candidado republicano Donald Trump dança durante comício em 2024. — Foto: AP Photo/Alex Brandon
Foi com Roy Cohn, o polêmico advogado que representou mafiosos de Nova York e é considerado o grande mentor de Donald Trump, que o ex-presidente dos Estados Unidos aprendeu o lema que desde então vem guiando sua trajetória: “sempre clame vitória, jamais admita a derrota”.
Trump, de 78 anos, aplicou o ensinamento não só ao contestar sua derrota nas urnas na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2020, que perdeu para Joe Biden, mas também quando conseguiu convencer credores a perdoarem a maior parte de uma dívida de US$ 900 milhões que fez na década de 1990.
Hoje, o republicano tem uma fortuna estimada em cerca de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões), fruto de seu conglomerado de empresas que inclui redes de hotéis, resorts, cassinos e campos de golfes dentro e fora dos Estados Unidos. E de uma carreira como personalidade da TV, que o alçou à fama antes de se tornar presidente dos EUA, em 2017.
Mas a trajetória de Trump, que tenta voltar à Casa Branca com a eleição presidencial desta terça-feira (5), também abarca processos judiciais, 18 denúncias de crimes sexuais, três casamentos, cinco filhos, dez netos, uma mudança de partido e muitas falas polêmicas — só nesta campanha eleitoral, ele disse que deve prender adversários políticos e colocar o Exército atrás de cidadãos dentro e fora dos EUA e prometeu a maior deportação de imigrantes na história de seu país.
Relembre, abaixo, parte da trajetória:
Ao contrário do que já disse algumas vezes, Donald Trump não construiu sua fortuna do zero. Seus primeiros passos e milhões de dólares foram proporcionados por seu pai, Fred Trump, filho de um imigrante alemão que investiu no incipiente mercado imobiliário de Nova York na década de 1950.
Fred Trump escolheu Donald, o quarto dos cinco filhos que teve, como seu sucessor na carreira. Descartou as duas filhas meninas, e o filho mais velho, Fred Jr., morreu de um ataque cardíaco associado ao alcoolismo.
Donald Trump (ao centro), com amigos de faculdade em imagem de arquivo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Após se formar em economia na Universidade da Pensilvânia, em 1968, ele assumiu oficialmente a imobiliária da família.
Seu primeiro passo foi tentar ampliar os negócios do pai, focados em residências para famílias brancas no Queens, bairro de Nova York onde o ex-presidente nasceu, em 1946, viveu durante a infância e a adolescência.
Trump filho queria construir prédios altos em Manhattan e hotéis, campos de golfe e cassinos fora dos EUA. Para isso, pegou um empréstimo de cerca de US$ 500 milhões de seu pai, segundo o jornal “The New York Times”, e foi se firmando no mercado imobiliário da cidade ao longo da década de 1970 com construções que ele sempre batizava com o sobrenome da família.
Em 1980, veio seu primeiro processo judicial: foi acusado de discriminar famílias negras em aluguéis de apartamentos em um de seus prédios. Trump, que herdou uma empresa focada em famílias brancas, negou, mas o caso ganhou repercussão, e ele foi, então, em busca de um nome forte para sua defesa.
Bateu na porta do advogado Roy Cohn, uma das figuras mais polêmicas da história recente dos Estados Unidos que acabou por se tornar o grande mentor de Trump e responsável por moldar a personalidade política do então jovem empreendedor.
“Ele me procurou dizendo: você parece ser maluco como eu e também é ‘antiestablishment'”, disse o próprio Cohn.
Roy Cohn foi advogado de grandes mafiosos de Nova York, sempre defendendo seus clientes em entrevistas à imprensa, o que o tornou um rosto conhecido. Também muito influente entre artistas, políticos e empresários, ele respondeu como réu em processos por acumular dívidas milionárias e manipular provas e comprar falsos depoimentos em julgamentos.
Um dos casos mais emblemáticos foi o do casal Ethel e Julius Rosemberg, judeus nova-iorquinos que foram para a cadeira elétrica acusados de serem espiões da União Soviética durante a Guerra Fria. A testemunha-chave do processo depois confessou ter sido forçada por Cohn a mentir.
O advogado também assessorou o senador Joseph McCarthy na caça aos comunistas que marcou a década de 1950 nos EUA. E liderou ataques e caças a homossexuais.
No processo em que foi acusado de discriminar famílias negras, Trump chegou a um acordo, mas, seguindo o lema de Cohn, declarou vitória alegando que em nenhum momento reconheceu culpa e acusou o governo de perseguição, seguindo a estratégia de ataque que marcaria o resto de sua carreira profissional e política.
Foi também com a ajuda de Cohn que o hoje candidato republicano construiu a Trump Tower, sua famosa torre residencial em Manhattan onde tem uma de suas residências, nos três últimos andares — atualmente, Trump vive com a família em uma mansão de 126 quartos no complexo residencial de Mar-a-Lago, na Flórida, do qual também é o dono.
A torre de Nova York foi construída parcialmente com aço, uma indústria dominada na época por mafiosos que Roy Cohn representava.